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QUARENTA E CINCO ANOS DE CAMINHADA

Completei quarenta e cinco anos no último dia 21 de junho. Recordando os acontecimentos que desencadearam meu nascimento, percebo nitidamente a mão soberana de Deus, ajuntando propositalmente as peças  aparentemente soltas e desconexas de minha existência, para conduzir-me ao primeiro passo de uma transformação que  Ele graciosamente estabelecera: a entrada no Reino de Deus.

Minha primeira referência espiritual veio da simplicidade de uma mineirinha, que ignorava as ciências humanas, mas tinha algo muito superior a elas, o amor sem limites  de uma mãe singular que desde o berço, antes do dengo noturno, me fazia repetir a prece que ela conhecia: “Jesus, Maria, José, minha alma vossa é, deito com Deus e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”.

Fui alfabetizado no Instituto Educacional e Agrícola Nossa Senhora da Glória de Rubiataba-GO, popularmente conhecido como Escola Paroquial. Pela primeira e última vez na história, fui guindado ao posto de primeiro aluno da turma. Da escola para a igreja,  que ficava ao lado,  foi um salto rápido. Mesmo sem a devida habilidade para o manuseio das galhetas, cheguei a uma função que muito orgulhava meu coração infantil: coroinha – auxiliar do Monsenhor Lincoln  Monteiro na  celebração da missa.

Vivendo em órbita do altar, dos ritos, dos sacerdotes, dos santos, das quermesses e das grandes festas do calendário religioso, cedo percebi que só havia um caminho para mim: o sacerdócio. Perto dos onze anos, com a devida bênção de meus pais,  o sonho virou realidade: ingressei no Seminário Redentorista São José, onde por sete anos aprendi valores comunitários que impactaram positivamente minha vida. Mas, na virada estratégica do curso, quando estabeleceria os primeiros vínculos com a Congregação do Santíssimo Redentor, uma grande questão me perseguia: “eu conheço a religião, mas não conheço o Deus de quem ela fala”!

Exatamente quando este sentimento ia gradativamente se transformando numa profunda inquietação, por ordem da Secretaria de Educação Estadual, fomos obrigados a buscar, além da formação sacerdotal, um curso profissionalizante semestral. Sem nenhum interesse e sem qualquer aptidão para a área, matriculei-me no curso de Administração Hospitalar do Senac. Nele, o Deus que  eu adorava sem conhecer, colocou ao meu lado  Maria Madalena Ferrante, uma jovem alegre e extrovertida, que por meio de uma amizade sincera e desinteressada,  de forma criativa e constante foi lançando sementes do Evangelho numa terra seca, porém ansiosa pela fertilidade do Reino.

Por sua influência, resolví participar de um acampamento da Mocidade Para Cristo, organização internacional focada no alcance de estudantes. A esta altura, apesar de não ter nenhum interesse em abandonar os preceitos religiosos arraigados em minha alma, tinha um desejo imensurável de abraçar um Deus vivo, que efetivamente fizesse diferença no meu cotidiano. A música tema, cantada várias vezes pelos Jovens da Verdade, ministério que liderava o encontro,  reafirmou uma mensagem que Deus sistematicamente me enviava: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3:3).

Começaram, assim, as dores de parto. No último dia do acampamento, 21.06.1975,  em conversa pessoal com o preletor, recebí dele uma palavra que me nocauteou: “sua igreja é a embaixada do diabo na terra e você só encontrará o que está buscando se negar todos os princípios que aprendeu com ela”. Obviamente não concordei com ele, mas mesmo assim, chegando ao final do encontro em culto na Igreja Presbiteriana Maranatha, durante o lanche  servido aos presentes,  admiti a inutilidade da performance religiosa como caminho de conexão com Deus, rendi minha vida completamente a Cristo,  fui visitado de uma maneira indescritível pelo Espírito Santo, nasci de novo, adentrei o Reino, tornei-me  um discípulo de Jesus!

Dito isto, minha idade está plenamente comprovada! Mas meu propósito aqui é outro: lembrar que discipulado começa quando, missionalmente,   através de relacionamentos significativos,  estabelecemos conexões de amor que  proporcionam a oportunidade de partilhamento do Evangelho com pessoas que Deus soberanamente colocou no nosso caminho, levando-as à mais importante experiência da história – entrar no Seu Reino por meio de um novo nascimento.  Filhos gerados em Cristo precisam ser intencionalmente criados em Cristo, frequentemente com as mesmas dores do parto (Gl 2:19), pelo aprofundamento qualificado do relacionamento vida a vida em pequenas comunidades de fé, numa busca permanente de uma genuína maturidade cristã. Desde aquele memorável dia, pela graça de Jesus e para a Sua glória, estou comprometido com esta causa!

Pr. Jair Francisco Macedo – Diretor Executivo do DMLOL/BR

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