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A SELEÇÃO DE JESUS – JO 1:35-51

Sou, desde a infância, um apreciador do futebol. Meu saudoso pai, apaixonado pelo Fluminense, deixava o rádio ligado num volume que toda a meninada se sentia obrigada a ouvir. Sem TV, assistia os gols com meses de atraso no famoso Canal 100, jornal que antecedia os filmes do Cine São Patrício, em minha cidade natal. Ao receber o abraço salvador de Jesus na cruz do calvário, minha admiração ampliou-se, pois percebi que alguns valores do futebol têm paralelo na caminhada cristã.

Selecionar doze atletas, resgatar o potencial individual de cada um deles, conectá-los diferenciadamente com Ele e uns com os outros, formar um time competente, treiná-lo prioritariamente por meio de um relacionamento íntimo,  entrar no campeonato  da história para promover salvação e transformação de todas as pessoas de sua geração e de todas as gerações,  de sua nação e de todas as nações,  este também foi o maior desafio do treinador Jesus.  Os resultados de seu sonho revolucionaram a história mundial mas, acima de tudo, a história de homens e mulheres que descobriram em Jesus um novo propósito para viver e no Seu discipulado uma missão relevante para se cumprir. Quais são os elementos que envolvem a seleção na caminhada do discipulado? A SELEÇÃO DE JESUS…..

 

TEVE UM “OLHEIRO” EFICIENTE: JOÃO BATISTA (v. 35-36)

 

“Olheiro”, no jargão futebolístico, é aquele que, dentre outras coisas, descobre novos valores para o time. Ronaldo, atacante diferenciado, foi descoberto por Jairzinho, que brilhou na copa de 1970. João Batista, sem a anuência especifica de Jesus, cumpriu informalmente esta função: apontou para Jesus (v. 35-36) foi profundamente responsável no cumprimento da missão que lhe fora conferida por Deus, pois ao ver Jesus não hesitou em reconhece-LO como o “Cordeiro de Deus” (v. 36);  abriu mão dos seus discípulos (v. 35-36) – ao apontar para Jesus, o próprio João Batista deu aos seus seguidores a senha para “mudarem de time”.  Diante desta perda imediata de influência, não se vê em JB nenhum ressentimento ou qualquer tipo de retaliação. Humildemente, ele identificou os limites de seu ministério e os aceitou com grande alegria (veja Jo 3:22-30).

 

TEM UM PROCESSO BÁSICO DE FORMAÇÃO (v. 35-42)

 

A entrada no “time de Jesus” foi individual, mas obedeceu a princípios aplicáveis a todos os “atletas” que foram formando esta seleção que iria posteriormente, após  o impacto notável da Sua ressurreição, realizar a maior de todas as revoluções…

 

* Ouvir o testemunho a respeito de Jesus (v. 35-37) – “Testemunho” é uma ideia chave no Evangelho de João.   Como seu objetivo foi fazer com que seus leitores conheçam Jesus como o “Cristo” = Messias = Filho de Deus = Deus (Jo 20:30-31)  ele valeu-se do relato  de diversas testemunhas, as quais foram provocando adesões à seleção de  Jesus (Jo 4:39).  Cada cristão é chamado a  ser uma  testemunha de Jesus (At 1:8),  fazendo  novos discípulos em todas as nações (Mt 28:18-20).

 

* Romper laços anteriores (v. 37) – A integração à  seleção de Jesus  pressupõe uma mudança radical de vida, na qual a renúncia de todas as coisas é condição absoluta e inegociável (Lc 5:27-28; 14:26, 33).

 

* Seguir Jesus (v. 37) – Ser cristão não significa estabelecer um vínculo com uma instituição religiosa cristã, mas com a pessoa de Jesus, fazendo Dele a referência central, prioritária e absoluta.

* Definir claramente o objetivo (v. 38) – “Pessoas certas,  nos lugares certos,  pelas razões certas”  –  não basta “ser de Jesus”, transitar por espaços “cristãos”, sem, contudo, ter a motivação correta. “Que buscais” (v. 38),      a pergunta feita aos novos discípulos do passado é feita também hoje – o que queremos  no time de Jesus: status, entretenimento, bens ou apenas Jesus e a Sua glória?

 

* Conhecer Jesus relacionalmente (v. 38b-39) – Diante  do convite para  “vir e ver”,  os novos discípulos   “foram, viram e ficaram” com Jesus. Discipulado significa “estar com Jesus” (Mc 3:14), numa relação de intimidade crescente,   através  da qual  somos  transformados por Ele. A maior expectativa de Jesus é que O conheçamos particularmente e transformativamente (Jo 14:6-9; 17:3).

 

* Partilhar de Jesus espontaneamente (v. 40-42) – André  foi tão impactado por Jesus que,  agilmente, levou seu irmão Pedro para a “seleção”  que acabara de entrar. Conhecer Jesus e torná-lo conhecido – comunhão e missão – estas duas marcas são pilares de uma caminhada séria com Jesus. A expansão da fé cristã  não é  responsabilidade dos profissionais da religião,  mas de cada discípulo   que é impactado pela companhia de Jesus.

 

TEM UM CHAMADO CLARO (v. 43-51)

 

A vinculação de Filipe e Natanael à seleção de Jesus reafirma e amplia valores importantes para aqueles que querem hoje, igualmente, dizer “sim” a Jesus.     Afinal,  quais são de fato as dimensões do chamado cristão?

 

* Chamado à uma pessoa: Jesus (v. 43)“Segue-me”, o desafio que impactou Filipe atravessou os séculos. Jesus procura “seguidores” e não religiosos, gente que se disponha a colocá-LO em primeiro lugar (Jo 1:15, 30),    desenvolvendo com Ele uma relação de amizade responsável (Jo 15:14-15).

 

* Chamado às Escrituras (v. 45) – “Se apenas um homem tivesse escrito um livro de predições sobre Jesus Cristo,    relativas ao tempo e ao modo de seu advento, e se Jesus Cristo tivesse vindo de acordo com essas profecias,  já estaríamos diante de  uma  força infinita. Aqui, porém, há mais do que isso. Há uma sequência de homens que, durante quatro mil anos, constantemente e sem variação, vêm, uns  após outros, predizer o mesmo acontecimento. Há quatro mil anos um povo inteiro o anuncia e subsiste para, coletivamente, dar testemunho das certezas que tem e das quais não se pode esquecer, sejam quais forem as ameaças e perseguições. Isto é muito mais considerável” (Pascal – filósofo francês). Filipe, antes de conhecer Jesus pessoalmente,  o  conheceu nas Escrituras (v. 49). Os selecionados de Jesus se comprometem com as Escrituras Sagradas (Jo 5:39-40), pois por elas experimentam um conhecimento mais profundo Dele (Lc 24:25-32, 44-48).

 

* Chamado à experiência (v. 46)A fórmula “vir e ver”,  usada no v. 39 por Jesus,  e repetida aqui por Filipe,   traduz  a real dimensão do discipulado cristão. Mais do que apreender intelectualmente alguns conceitos   sobre Jesus, somos chamados a uma experiência genuína e crescente do seu imenso poder (Jo 4:40-42; 9:24-25).

 

* Chamado à compreensão e proclamação da singularidade de Jesus (v. 47-49)Jesus é singular porque nos conhece mais do que nós nos conhecemos (v. 47-48a; 2:25);   e se interessa por nós antes mesmo de nos interessarmos por Ele  (v. 48). A descoberta destas realidades levou Natanael à conclusão de que Jesus é Deus. Hoje, como novos “Natanaeis”, uma vez ligados a Jesus e sua seleção, somos desafiados a proclamar entusiasmadamente sua  singularidade.

 

* Chamado à visão de cousas extraordinárias (v. 50-51). A promessa de Jesus permanece a mesma:  seus “selecionados”,  pela via da fé, são levados  à visão de grandes coisas e,  acima de tudo,  à visão do “céu” onde prevalece a  sua  autoridade  que confere felicidade eterna.

 

Concluindo, ressalto que minha admiração pelo futebol vem  acompanhada  de um desencanto. Afinal, nele também encontramos os piores sentimentos da natureza humana: mentira, orgulho, violência, exploração, corrupção, enfim, como costuma dizer Hailé Pinheiro, o mais longevo e importante diretor do Goiás Esporte Clube: “o futebol é um lugar de prostituição permanente”.

Por outro lado, os relatos dos evangelhos sobre a seleção de Jesus,  não deixam dúvida sobre a fragilidade de seus atletas. No final de  um longo treinamento de três anos,  trocaram farpas para descobrir quem deles era o maior (Lc 22:24) e, de forma transparente e dura, foram todos reprovados por causa da incredulidade e dureza de coração (Mc 16:14). Contudo, tocados por seu amor sacrificial na cruz do Calvário, bem como pelo poder de sua ressurreição e ascensão, que proporcionou a liberação capacitadora do Espirito Santo,  eles abraçaram o mais extraordinário de todos os desafios da história humana: ser e fazer discípulos em todas as nações (Mt 28:18-20).

Este desafio da Grande Comissão continua o mesmo: no discipulado, cada pessoa é chamada a entrar imediatamente e responsavelmente no time de Jesus, conhecendo-O prioritariamente, recebendo seu treinamento,  vestindo sua camisa, vivenciando e divulgando Sua visão do jogo da vida, reconhecendo-O a cada dia como o grande comandante, o único que pode  levar  à vitória plena! Sermos parceiros de Jesus nesta admirável caminhada do Reino, este é o nosso sonho, esta é a nossa vida!

 

 

Pr. Jair Francisco Macedo (adaptado do livro que o Senhor me deu graça para escrever  “Vida em Jesus – Uma Caminhada de Discipulado no Evangelho de João”).

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